sexta-feira, 6 de julho de 2007

História de não-acontecimentos

Estava sozinha, sentada no chão, escorada numa coluna, desenhado qualquer coisa em meio à confusão do campus universitário no horário entre o almoço e a primeira aula da tarde. Ele a viu e a reconheceu. Não de imediato, é péssimo fisionomista e não a via há um bom tempo... três meses talvez. Tinham se apenas falado uma vez, mas falaram bastante. Ela lhe contara coisas, mostrara o que tinha de melhor. Ele gostou.

Estava sozinha, sentada no chão, escorada numa coluna, desenhando qualquer coisa em meio à confusão do campus universitário. Ele queria chegar e falar: você lembra de mim? Mudara bastante nos três meses que passaram, mas continuava sendo alguém reconhecível. O mesmo sujeito tímido e desconfiado. Não foi falar, apenas passou ao seu lado, devagar. Ela não levantou a cabeça. Estava concentrada.

Estava sozinha, sentada no chão, escorada numa coluna, desenhando qualquer coisa em meio à confusão do campus universitário. Ele passou por ela e parou em frente aos murais em que os estudantes anunciam festas, vagas em apartamentos e bandas, vendem seus antigos videogames. Não queria nada disso. Arremetera, mas tentaria pousar novamente. Foi ao bar, comprou uma Coca-Cola e passou mais uma vez por perto, fingindo observar a vitrine da livraria. Ela não viu quando ele a encarou. Continuava concentrada.

Estava sozinha, sentada no chão, escorada numa coluna, desenhando qualquer coisa em meio à confusão do campus universitário. Ele tinha medo de incomodar, de interromper. Medo de ser recebido friamente. Ficar lá, em pé, com cara de bobo. Deu a volta, saiu de perto, foi procurar algum colega pra falar alguma bobagem. Sabia que de nada adiantava ficar andando em volta da moça, sem falar um oi sequer. Foi ao banheiro, lavou o rosto, se viu no espelho. Teve raiva e – decidido – saiu disposto a falar com ela. Seria fácil, o momento era mais do que apropriado: ela estava sozinha, sentada no chão, escorada numa coluna, desenhando qualquer coisa em meio à confusão do campus universitário.

Não estava mais quando ele voltou...

2 comentários:

  1. pensei em todas as minhas próprias possibilidades perdidas por pensar demais.

    por isso não vou pensar.
    pego o telefone e ligo.
    e pronto.

    obrigada!

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