sábado, 21 de agosto de 2010

Resgate

Lá pelas bandas de 2000, eu e uns colegas tínhamos um fanzine chamado Cabron. Tava com saudades daquela época e, principalmente, de shows da Bidê ou Balde. Aí resgatei isso. É bom pra ver que a gente espera bem menos de tudo quando se é guri.

Fechando um ciclo - Bidê ou Balde em Vacaria (RS)

Quando o vocalista Carlinhos Carneiro cantou o refrão de Eu te amo Lucinda, bem na hora do "não olha pra trás", o segurança virou a cabeça e olhou. Ele queria ver Vivi, a vocalista de saia curta e gestos provocativos. Até as coincidências são mais divertidas nos shows da Bidê ou Balde. Mesmo que o show aconteça numa véspera de natal, que a cidade seja Vacaria (RS), o local se chame Clube do Comércio, o público tenha média de 15 anos de idade e pareça meio deslocado da festa.

Com todos esses detalhes de data, público e localização, pode parecer que o show tenha sido morno, burocrático. Pelo contrário, a banda parecia disposta a conquistar aquele público estranho. Antes de começar a cantar, Carlinhos começou um discurso non-sense, explicando que a data 25/12 não tinha nada a ver com o nascimento de Cristo, que era data de uma festa pagã, escolhida aleatoriamente quando foi estabelecido o calendário Gregoriano. Mesmo sendo non-sense era um discurso perigoso para uma cidade católica como Vacaria (pra dar uma dimensão da tragédia basta dizer que algumas horas antes do show uma missa foi realizada numa das igrejas da cidade e transmitida ao vivo num telão para a outra). Apesar do discurso - interrompido pela metade quando a banda começou a tocar e o vocalista a pular - pode-se dizer que a Bidê ou Balde conquistou aquela parcela da juventude vacariense. Pelo menos a guria que estava ao meu lado olhava incrédula e repetia: "Esses caras são muito loucos..."

Pra quem já conhecia, foi o show divertido de sempre. Serviu para constatar que as músicas inéditas do disco Pra onde voam os ventiladores de teto no inverno? (que veio junto com uma Revista Atlântida) são ainda melhores ao vivo - como todas da Bidê ou Balde, por sinal. Matelassê foi a música mais divertida da noite (pena que apenas o colunista e alguns gatos pingados a conheciam). No repertório também havia outra inédita, que estará no próximo cd da banda. Graças à excelente acústica do Clube do Comércio, não foi possível entender porra nenhuma da música. As covers escolhidas da noite foram Song 2 (Blur) e Independente Futebol Clube (Utraje a Rigor, cantada só pelas meninas).

É provável que o show da Bidê ou Balde seja o melhor do Brasil na atualidade. Se é gostoso pular alucinado com a combinação de guitarras pesadas e refrões xalalá da banda, melhor ainda é assistir a Bidê ou Balde caminhando para o auge e se divertindo em cima do palco - tanto ou mais que próprio público. Seja em Atlântida, Porto Alegre, Floripa, São Paulo ou Vacaria.

PS. Foi exatamente no natal do ano passado, exatamente em Vacaria, que eu comprei o disco da Bidê ou Balde. Por isso estava meio emocionado quando escrevi. Desculpem qualquer coisa.)

(publicado no Cabron nº 10)

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