terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sobre decifrares e devorares

Ela já tinha me feito subir a rua descalço, em solidariedade. Não custava nada me despir – de todas as formas possíveis. Foi o que fez quando olhou em volta, a sala, a cozinha, o quarto, e disse que o lugar parecia uma daquelas casas que precisaram ser abandonadas de uma hora para outra, por iminência de desastre, ataque, invasão ou um perigo qualquer. A mistura de coisas arrumadas e desarrumadas, uma louça por lavar há tempos, coisas aleatórias por cima da mesa, uma cama desarrumada. Certeira, ela.

Percebi que todos os meus lugares têm essa mesma característica. O abandono apressado, a impressão de fuga. As casas, os apartamentos, os quartos, as cidades, as pessoas. Tudo é ponto de passagem, local pronto para ser abandonado.

Certeira, ela.

Demais até.

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