Ele chegara à cidade, duas semanas antes, pronto para fazer parte daquilo. Por isso, a máquina fotogrática digital de um vírgula três megapixel estava no bolso da calça. Por isso, retribuiu o sorriso e aceitou a taça de cerveja estendida por ela, a do sobrenome de político importante, que ele só descobriria mais tarde, ao anotar o correio eletrônico que acrescentaria depois ao programa de troca de mensagens instantâneas. Até brincou sobre o político, numa tentativa de ser espirituoso.
- Sim, ele é meu tio – respondeu ela, com um misto de orgulho e enfado pela provável repetição da piada que não era piada.
Era apenas a segunda saída dele na megalópole, a primeira naquele lugar. Estava fascinado por aquela mistura de pessoas, de estilos, de idades (e menoridades), a música, a ambigüidade sexual, os banheiros mistos e na possibilidade concreta de participar de um beijo com duas mulheres ao mesmo tempo. Nunca vira nada disso em sua ilha, tão distante.
Mas, aquela noite, não houve beijo triplo. Entre o gole da cerveja na taça e o correio eletrônico escrito no panfleto descolado com anúncio de festa, houve apenas meia-dúzia de palavras e alguns beijos. A segunda mulher que beijava na nova cidade em duas semanas – uma média inimaginável na vida anterior.
O beijo e o panfleto foram os troféus da noite. A menina não era opus dei como o tio famoso, mas era comedida. Não cedeu a convites ousados, até porque ele ainda não sabia como fazê-los. Ficaram de se ver outro dia, outra noite. Até se viram, mas só pra descobrir que não tinham absolutamente nada a se dizer.
Mas é sempre curioso ler sobre o tio governador.
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