sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Carta (de intenções)

Run, Forest, run! Se eu tivesse que resumir brevemente, muito brevemente, o que estão sendo estes dias de férias, eu usaria esse bordão do filme Forest Gump. Percebi isso numa noite em que usava uma camiseta do filme, lá em São Paulo, naqueles cinco dias improváveis que passei lá a troco de nada e que fizeram tudo, ou quase tudo, fazer sentido.

Assim como Forest, saí correndo por aí sem muito objetivo e deixei a barba por fazer. No filme fica claro que embora todos busquem e encontrem justificativas na decisão dele se abandonar tudo e sair correndo pelo país, não existe motivo algum. Ele apenas corria.

Eu tinha vaga noção do que me fazia correr quando fui para São Paulo. Eu disse para a minha chefe que precisava tirar o quanto antes quinze dias das minhas férias, decisão tomada na véspera. A ideia era tirar a cabeça do trabalho, ficar em casa, usar o dinheiro fora de hora para antecipar alguns pagamentos. Aí veio a ideia de São Paulo.

Fazia uns seis anos que não ia para lá com tempo de passear, de viver a cidade. Fiz um roteiro nostálgico-sentimental pelos lugares que frequentava no breve período em que morei lá. A Vila Madalena em que morei, a rua Augusta dos finais de noite, o Matrix que me ensinou a ouvir Franz Ferdinand na pista, o boteco na esquina da Fradique com a Cardel em que bebi uma Coca-Cola de garrafinha ao amanhecer com a mulher (semi-desconhecida) da minha vida, as ruas em que andei pelas manhãs cheirando a fumaça e sorrindo por saber que tinha o número de telefone da garota escrito em um flyer de festa.

Também aproveitei para rever pessoas que estavam fora da minha vida prática há muito tempo, sem motivo específico, apenas as vidas afastando. Descobrir que cinco, seis, dez anos de ausência podem ser resumidos em um almoço ou em algumas heinekens no happy hour. Soube, de uma vez por todas, que é fácil se reconectar às pessoas quando elas realmente importam.

Além de tudo isso que fiz por lá nesses cinco dias, um motivo secreto: eu fui descobrir se queria, dez anos depois, voltar a desejar morar em São Paulo – com tudo que isso significa, especialmente o reset na carreira profissional que desenhei lá atrás e que venho tentando colorir há nove anos. Encontrei lá os lugares, os amigos, o Upiara de 2005. Era como se estivessem me esperando.

Mas senti saudade de casa.

Do Centro de Florianópolis, dos meus lugares, do Gato Mamado e do Blues Velvet, da ideia de que este ano, juro que sim, vou começar a aproveitar as praias e os lugares bonitos que a Ilha de Santa Catarina proporciona. Senti saudade das pessoas e também dos meus planos, da minha vontade de fazer uma pequena história aqui dentro – e ajudar a contar a história do lugar que escolhi como casa.

São Paulo me deu a luz. E continuei correndo. Fui a Joinville, simplesmente para me divertir e acabar de vez com velhos preconceitos sobre o lugar em que morei dois anos e meio e chegou a parecer um entrave e que hoje sei que foi importante como ponto de passagem, como experiência. Run, Upiara, run!

A vida mudou demais nestes últimos quatro meses – que parecem bem mais. Viver aleatoriamente e em alta velocidade às vezes faz a gente perder os detalhes. Estou sentindo falta dos detalhes. As coisas divertidas que fiz nestes tempos – e que sempre te conto nessas cartas – foram virando rotina também.

Estou sentindo falta de parte de mim que sumiu também – muito antes desses quatro meses – adormecido (morto?) em algum lugar. Cheguei a achar que precisava recuperar o tesão pelo jornalismo. Foi lá na Rua Augusta que percebi não ser bem essa a questão. O tesão pelo jornalismo continua aqui. É tema de maior parte das minhas conversas, das minhas atenções, das minhas curiosidades.

Perdi o tesão por escrever – é muito mais grave.

Por isso demorei tanto para escrever esta carta, embora culpe diversos outros motivos. Parar e escrever um texto tem sido um ato doloroso como nunca, mesmo que as ideias ainda estejam fervilhando na cabeça, doidas pelo papel (ou tela). Algumas viram tuite, outras viram post no Facebook, resumidas ao máximo, sujeitas ao crivo dos likes e retweets.

Vou buscar a cura. Começo aqui, começo por ti.

Isso que eu escrevi parece uma carta? Não sei, talvez eu poste no blog para perenizar e lembrar do que estou sentindo. Talvez tenha sido sempre um texto independente.

Importante é que está, finalmente, escrito.

Beijo

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