sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Centroavante

Mais do que a velocidade, foi a timidez que me levou para os lados do campo. O lado direito, para ser mais exato - como o Renato que vi jogar em Vacaria numa passagem fugaz por um Grêmio sem brilho, como o Garrincha da biografia que li aos 13 anos de idade. Eu era pequeno, magro e rápido. Nos lados do campo, estava protegido das trombadas centrais, participava do jogo de forma pontual, tentava ajudar outros a fazerem o gol. O protagonismo eu deixava para quem estava disposto a sofrer por ele.


Era assim fora do campo também.


Um dia, no entanto, eu já não era mais tão mocinho, não estava num campinho de bairro em Vacaria. Estava jogando com colegas de universidade, na Florianópolis que adotei. Em campo, continuava franzino e tímido, fugindo dos choques e das pernas na correria. Um coadjuvante esforçado e veloz na minha querida ponta-direita. Até alguém dizer, não lembro quem, para eu ficar centralizado na frente.


Cheguei àquela parte inóspita e quase desconhecida do campo como quem entra em um lugar sagrado. A centroavância. O lugar dos que querem ser protagonistas, dos que esperam pela bola, dos que encaram travas, chuteiras, canelas, o que for. Estufei o peito, senti que era centroavante. Abri os braços, de costas para o gol - uma sensação nova. Tudo que acontecia no jogo deveria desembocar em mim. E eu deveria estar pronto para corresponder, para decidir.


Não lembro se a bola chegou. Certamente não fiz gols. Lembraria. Mas nunca esqueci aquela sensação de comando. De estar no centro e esperar para ser servido. Deve ser assim o mundo dos que não são tímidos, não pensei, mas senti.


Quis ser assim fora do campo também.

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