sábado, 12 de dezembro de 2020

A noiva do maragato – uma história de horror em 1894

Ali pelo final de 2003, eu estava batendo cabeça para terminar a pesquisa e iniciar a redação do meu trabalho de conclusão de curso no Jornalismo da UFSC. Eu queria apresentar uma reportagem histórica sobre a Revolução Federalista em Desterro, hoje Florianópolis, entre 1893 e 1894, quando a Ilha de Santa Catarina foi um dos palcos da revolta contra o presidente Floriano Peixoto. Fiquei imediatamente encantado com a tomada da cidade pelos revolucionários e sua condição de "capital provisória do Brasil" dada por eles. Havia um presidente, ministros e a tentativa de que outras nações reconhecessem a guerra civil brasileira. Na minha reportagem, eu queria mostrar como a pacata e pequena Desterro viveu os sete meses de "governo revolucionário", a retomada da ilha pelas forças legais e a cruel repressão que a sucedeu. No calendário, a tomada da cidade pelos revolucionários e o desfecho dessa história com a mudança do nome Desterro para Florianópolis - deixando claro quem ganhou a parada - durou pouco mais de um ano. Daí meu título: Os últimos dias de Desterro.

Vem dessa época, 2003, o texto que segue abaixo. Naquele momento em que eu não sabia se tinha pesquisa suficiente para iniciar a escrita da reportagem - e em dúvida sobre estar ou não suficientemente ambientado no tem -, decidi escrever ficção. Um conto ambientado naquela Desterro da minha pesquisa, em meio àquela revolta que fez aflorar o pior de um povo - simbolizado por matanças e degolas de lado a lado. Quando botei o povo final em A Noiva do Maragato, me senti pronto para escrever o TCC. E assim foi (embora eu tenha entregado apenas 25% do previsto e nunca mais tenha retomado o projeto, como prometi para a banca). Nestes 17 anos, o conto ficou guardado - vez ou outra mostrava para alguém. Agora resolvi perenizar por aqui. Pensei em revisar, mexer. Mas deixa assim, como o Upiara de 21 anos achava que estava bom. O de 38 anos ficou com vontade de mexer em algumas coisas, poucas, e melhorar umas frases. Mas deixa assim.    

A noiva do maragato – uma história de horror em 1894

  Tá com pressa de morrer, maragato?

Ajoelhado no chão, com as mãos amarradas por trás, Diogo Nunes, soldado desertor da tropa federalista de Gumercindo Saraiva, finge não ouvir as provocações. Foi preso em Desterro, logo depois que a ilha foi retomada pelos florianistas, dedurado por um cretino qualquer que o viu chegar à cidade em dezembro, junto com os homens de Gumercindo. Sabe que vai morrer e que isso vai acontecer devagar. Sabe porque já matou muito lambisa em situação semelhante.

– Faz o que tem pra fazer!

– Não te preocupa com isso, maragato. Tem muito sangue ruim aí dentro de ti pra botar pra fora. E a gente tem tempo.

Diogo não pensava em sangue ruim, revolução, Floriano Peixoto, Custódio de Mello ou na morte certa que viria. Pensava em sua prenda. Pensava em Joana, presa junto com ele. O maragato nunca teve medo de morrer. Não teve medo no início da revolução ou no dia em que degolou o primeiro adversário. Nem agora, amarrado e indefeso na frente do inimigo, sente medo por seu destino. O único medo que sente é o de perguntar por ela.

– Não quer saber da tua china?

Diogo se cala, evitar olhar o sujeito, abaixa os olhos. O algoz prossegue.

– Ela tá lá dentro. Os homens tão aproveitando. É muito obediente a chinoca, tamo gostando de ver. Ela já era assim quando a tiraste de lá do Beco do segredo?

– Ora seu filho...

O xingamento foi cortado por um grito de dor. Resultado de um cutucão do facão do florianista na perna do maragato

– Até que tu e ela gritam parecido... – debocha o sujeito.

– Acaba logo com o isso!

– Mas assim não tem graça. Tu sabes que não tem... não era degolador do Gumercindo?

– É mentira, o povo inventa muita história...

Outro corte, outro grito de dor.

– Economiza nos gritos que ainda é só o começo. E não mente pra mim, maragato! Quando tavam por cima da carne seca, não tinham nenhuma vergonha de contar o que faziam com os outros. Não era assim que faziam? 

A frase termina com um pontaço de facão na coxa de Diogo, que urra. A dor é forte, ele tenta se recompor. Olha para o homem, se defende...

– Eu só degolei um sujeito...

– Pois tu é o meu primeiro. Não deve ser muito difícil, não é?

O carrasco se aproxima o suficiente para que Diogo sinta o cheiro de cachaça que ele exala. O homem o pega pelo pescoço e ele sente que talvez o suplício esteja chegando ao final. Fecha os olhos, suspira e ouve a voz em seu ouvido:

– Acha que vai ser fácil assim, maragato?

Um movimento brusco, um grito, uma dor que rasga. O homem não está mais junto dele, mas Diogo continua vivo. Teve uma orelha cortada.

– Tu achas que existe clemência pra maragato que degola, que rouba, que estupra? Aqui é olho por olho, dente por dente...

Diogo grita, encosta no ombro o que restou da orelha pingando sangue. Olha pro lambisa.

– Minha orelha! Açougueiro, desgraçado....

– Pois não era assim que vocês faziam? Quer me ensinar?

O homem chuta Diogo Nunes na altura do rim. Mais um grito de dor. Ele sai gargalhando, entra na porta dos fundos da casa e o deixa só. O maragato volta a pensar em Joana.



Joana está estirada por cima de uma mesa. Cinco homens bebem e dão gargalhadas. O sexto homem, que cuidava de Diogo Nunes nos fundos da casa, chega e fala as novidades.

– O maragato já tá botando o sangue ruim pra fora.

– Acabou com ele?
– Não... ainda tem muito o que fazer com aquele desgraçado.

Mantendo os olhos fechados, tentando passar por desacordada, Joana ouve a conversa dos florianistas. Até o momento, pensava que nenhum sofrimento poderia ser superior ao que passara com aqueles cinco homens. Se esquecera do que é capaz um lambisa com um facão. Se esquecera das histórias que Diogo Nunes lhe contara, sobre os companheiros encontrados degolados nas estradas do interior. Pensava em Diogo e torcia para que já estivesse morto.

– Mas vocês deixaram a china acabada...

– Ela tá se fazendo... pode conferir...

O homem que até momentos atrás torturava o maragato nos fundos da casa se aproxima de Joana. Cutuca. Nenhum movimento. Ele a puxa pelos cabelos, Joana grita e abre os olhos. Olha para o inimigo com raiva.

– Me larga, seu filho de uma puta.

– Mas é enfezadinha que nem o outro!

– Me deixa em paz!

– Não sei o que tanto reclama... tava se deitando com um maragato. Agora que tá descobrindo o que é homem de verdade...

Ele abre o cinto, começa a baixar as calças. Joana não reage. As marcas que tem no corpo e no rosto são as provas de que pouco ou nada adianta reagir.



Foi quatro meses antes, em meio aos festejos e às flores que os homens de Gumercindo Saraiva receberam na triunfal chegada a Desterro, que Diogo Nunes conheceu Joana. Ela era diferente das chinas polacas que conhecera no interior do Rio Grande. Mas não tão diferente assim, já que o ofício era o mesmo: trabalhava em uma casa não muito discreta no Beco do segredo. Nunes achara graça do nome dado à rua que era o reduto da prostituição na capital revolucionária do país. Mas o que lhe chamou atenção mesmo foi a tal mulher.

A chegada dos maragatos deixou as moças alvoroçadas, mas não Joana. Estava quieta, como se sentisse desconfortável com a presença daquela gente estranha. Não se oferecia como as outras, pelo contrário, parecia retraída. E foi essa mulher jovem, miúda, de cabelos escuros e jeito de que nunca tinha estado num lugar desses quem mais chamou a atenção de Diogo Nunes.

– Algum problema com a prenda?

– Não... e não sou prenda.

– Pois eu sei que não é. Se está sozinha, me acompanhe.

– Por que deveria te acompanhar, maragato?

– Porque estou pagando. E porque sou maragato – disse com um sorriso que Joana não sabia se significava uma cortesia ou uma ameaça. 

Ela acompanhou. Naquela noite, nas noites seguintes e até quando Diogo largou a tropa de Gumercindo para se estabelecer em Desterro. Por causa dela. Eles só não esperavam que a cidade fosse retomada pelo governo legal e que de todos os cantos surgissem florianistas dispostos a vingar o tempo em que os federalistas brincaram de “capital revolucionária do Brasil”. Vingar com sangue maragato.



Gumercindo Saraiva olha triste para Diogo e ele sabe porquê. Não queria ter abandonado a revolução, mas teve que escolher entre ela e Joana. Não foi falta de coragem ou medo de morrer. Achou que a prenda fosse mais importante que essa luta que nunca entendera direito. Mas tinha vergonha de dizer isso ao general. Estava envergonhado por Gumercindo vê-lo nesse estado. Se pudesse ter adivinhado antes que de nada adiantaria ter ficado em Desterro, que nunca deixaria de ser o degolador maragato que a cidade inteira continuava a ver nele... não queria pensar nisso, só queria o perdão de Gumercindo.

– Eu vou morrer, general...

Lo sé... yo tanbién... y casi todos los otros. Es una guerra perdida. Sucia y perdida.

Viu o desespero nos olhos de Gumercindo como nunca imaginou ver. E acordou sendo chutado mais uma vez...

– Tava sonhando, maragato?

Era sonho. Não vira Gumercindo e nem a guerra estava perdida. Ele e Joana estavam. 

– Sentiu minha falta? Sabe que a tua prenda parece que não sente mais a tua. Tá quietinha lá, bem boazinha...

– Deixa Joana ir, ela não tem nada a ver com isso.

– O que é dela tá guardado. O que é teu também, aqui na ponta do meu facão. 

A tortura recomeçava. Por trás, o florianista espetou as costas de Diogo várias vezes. Aos berros, o maragato pedia clemência. O martírio pára por um momento. Diogo sente que é a hora da degola. Por trás, o inimigo só precisa puxar-lhe os cabelos e aplicar o golpe no pescoço. Tem certeza porque foi assim que sempre fez. Mas estava enganado. Quieto, o lambisa mexia em suas mãos amarradas. A angústia da espera acaba quando a dor chega, mais uma vez e mais forte que as anteriores.

– Ahhhh!!!

– Não te fresqueia que é só um dedo. Tu não vai precisar mais dele e eu quero uma recordação... não é justo?

Não havia argumento, não havia o que dizer. O homem era mais sanguinário do que Diogo podia imaginar. Mais do que ele sempre fora. O florianista gostava do que estava fazendo e iria prolongar aquilo ao máximo.

– Sabe que nós todos gostamos muito da tua putinha? Como é o nome dela mesmo... Joana?

– Ora seu canalha, cale a boca!

– Pena que foi se meter com a maragatada. Não deu sorte a coitadinha. Tanta gente direita por aí, tsc, tsc, tsc.... e foi se deitar com um desgraçado como tu.

Não suportava ouvi-lo falar de Joana. Nem queria imaginar o que os outros faziam com ela dentro da casa. Quantos seriam? A deixariam viva depois disso? Faria diferença? O torturador se aproximou e com o fio do facão começou a fazer pequenos cortes no rosto de Diogo Nunes.

– Daqui a pouco a gente traz a Joana aqui pra que tu e ela matem as saudades. E ela vai te ver bem “corado” – o homem debocha e emenda uma gargalhada.

– Não!

– Pensei que tu gostava dela. Veja só... largou a tua gentalha por causa da china e agora nem quer vê-la... ou... será que tu não largou o Gumercindo por causa dela... foi por medo, não foi?

– Eu nunca tive medo, seu filho de uma puta.

– Nem de mim, maragato?

– Pode ficar com meus dedos, com a minha cabeça se quiser... mas não vai me ouvir dizer que tive medo de ti.

– Posso ficar com a tua china também?

– Debochado, animal... me mata logo. Ou não tem coragem?

Ao ouvir o desafio, o florianista logo espeta o facão na barriga do maragato. Foi a dor mais forte de todas ate então. Sentia o facão deslizando devagar para fora do corpo, a lâmina afiadíssima abrindo tudo por onde passava. Era um ferimento de morte, mas sabia que não era o último.

– Isso foi só pra te mostrar o que eu posso fazer. Mas não é esse corte que vai te matar. Agora eu vou te enfeitar pra veres a tua linda prenda...

O homem larga o facão no chão. Da cintura, tira outra menor. Chega mais perto. Devagar enfia a ponta da faca no olho direito de Diogo, que berra.

– Não te mexe que é pior...

Ele continua com o estranho ritual. Puxa o lábio inferior da vítima e o corta com um rápido golpe. Mais um grito. Quando percebe, sente outro golpe da pequena faca, na ponta do nariz. Imagina o rosto desfigurado e chora. Ao ver o choro, o florianista dá um passo para trás. Olha para o maragato quase que com pena.

– E agora, tu sente ou não sente medo de mim?

– Me mata logo, seu desgraçado!

– A tua hora vai chegar, maragato. Agora confessa o teu medo!

– Nunca!

– Diz ou tu não vai dizer mais nada, seu excomungado!

– Não!

O homem se aproxima. Chega perto do rosto ensangüentado de Diogo. Eles se olham. Num esforço tremendo, o maragato cospe no rosto do outro uma mistura de sangue e saliva. O florianista se limpa, com nojo, e desfere mais um golpe, agora no braço. Quando Diogo grita, recebe um violento corte dentro da boca. Grita, cospe sangue, tenta dizer alguma coisa, mas não consegue.

– Agora é que tu não vai falar mesmo...

Mais uma vez, o florianista o deixa sozinho com suas feridas e entra na casa. Diogo Nunes sente medo. Não da morte, da dor ou do homem impiedoso que o tortura. Sente medo de que ele tenha ido buscar Joana.



– Joanita do meu coração, olha o regalo que eu trouxe para ti.

– Me deixa em paz!

– Ainda é cedo. Podemos nos divertir tanto...

Joana não responde. Não há nada pra dizer. Há pouco, aquele homem estava lá fora com Diogo, ela ouviu os gritos. Ele é o mais debochado de todos e parecia ser uma espécie de líder. Agora, Joana imagina que ele deva ter vindo dizer que seu amante está morto e que é a vez dela. O homem mantém o punho fechado à sua frente, como se escondesse algo.

– Que guria mal-educada, não quer ver o teu presente?

Ele abre a mão e mostra o dedo amputado. Joana grita de horror. Sabe de quem é o dedo. Só não sabe o que isso significa.

– O Diogo... ele... está morto?

– Não, minha querida. Ainda não... 

Essa era a resposta que ela mais temia ouvir.

– Sabe Joana, ele me fez um pedido que eu achei tão bonito que decidir realizar. O maragato quer te ver antes de morrer. Quer te dar um beijo. É um dever cristão realizar um desejo desses, tu não achas?

Até então ela pensara que nunca mais veria Diogo e se iluminou com a idéia. Também queria vê-lo, nem que fosse apenas uma vez. Mas não disse nada, nem demonstrou qualquer alegria. Sabia que não podia confiar naquela raça. 

– Tem que ser logo – disse o homem, guardando o dedo no bolso e pegando a mão de Joana para conduzi-la. Depois, olhou para os outros e fez um gesto para que todos os acompanhassem.



Diogo imagina que talvez o florianista tenha desistido da degola. Já o torturara bastante, já o ferira de morte. Poderia deixá-lo morrer sozinho ali e depois voltar para se livrar do corpo. Lembrava de quando ele disse que ainda não tinha degolado ninguém. Talvez tenha ficado com medo de não conseguir fazer. Todos esses desejos foram por terra quando ele viu a porta se abrir e de lá saírem cinco outros homens, o torturador e Joana. Baixou a cabeça. Não queria que sua prenda o visse naquele estado lastimável. Queria dizer para ela não olhar, queria dizer que aquele corpo mutilado sangrando não era mais ele. Mas toda tentativa de falar resultava em frases ininteligíveis e em muito sangue cuspido.

– Olha pra tua prenda, maragato. Não tava com saudade?

Joana chora, não consegue acreditar no que fizeram com Diogo. É muito pior do que ela imaginara.

– Ela tá até chorando, maragato. Olha pra ela, diz o quanto tu a quer bem...

– O que tu fez com ele, seu carniceiro!

– Nada que ele nunca tenha feito. Ou ele não te contou o que fazia quando pegava um dos nossos?

Joana se cala, chora. O florianista vai até Diogo e o puxa pelo cabelo. 

– Tá feia essa tua cara... cruz-credo! Mas vocês se amam, não é? Então eu permitir um último beijo...

Mais uma gargalhada. Dois homens agarram Joana e a aproximam de Diogo. O torturador mantém a cabeça do maragato levantada, puxando seus cabelos por trás. Os rostos estão quase juntos, mas Joana não tem coragem de se aproximar daquela boca ensangüentada, sem lábio inferior. Daquele rosto coberto de lágrimas e de sangue.

– Vais refugar o último pedido do teu amante? Que coisa feia...

Os dois homens que prendem Joana forçam para que os lábios dela toquem os de Diogo. É rápido, logo ela é puxada. Sai com a boca lambuzada pelo sangue do outro. 

– Chega, eu odeio despedidas!

Chegara a hora de acabar com o espetáculo e Joana seria forçada a ver a cena. O florianista pega mais uma vez a pequena faca, puxa a cabeça de Diogo para trás e aplica o golpe no pescoço. O sangue abundante sai pelo corte e pela boca do maragato. O homem continua forçando o corte com a faca, até a cabeça se desprender do corpo e cair no chão.

– Até que não é tão difícil.

Horrorizada, Joana continua chorando e nem percebe que os homens largaram seu braço e que está solta. 

– E tu, china, tá solta agora, pode ir pra onde quiser.

Meio sem entender, ela se aproxima do corpo. Sente nojo, se recusa a acreditar que aquele corpo mutilado seja o do homem que a conhecera poucos meses antes e que prometera viver sempre ao seu lado.

– O que vocês fizeram com o meu Diogo!?

– Demos o castigo que todo maragato merece e que todo maragato vai ter. E tu vai viver pra contar pra todo mundo o que viu. Pra dizer como foi o fim da maragatada aqui no Desterro. Some daqui, vagabunda!

Mal entendeu o significado daquelas palavras, Joana começou a correr. Saiu pela lateral da casa, atingiu a rua. Correu, chegou a uma rua maior, correu mais e logo estava na praça. Era madrugada, não tinha ninguém na rua. Ela parou em frente à igreja matriz, fez o sinal da cruz e voltou a correr, na direção do Beco do segredo. Na casa em que antigamente trabalhara, Joana pediu guarida.



Joana deixou Desterro pouco tempo depois, em maio de 1894. Partia para o Paraná, onde tentaria esquecer aquilo tudo e recomeçar numa cidade em que não fosse conhecida como “a noiva do maragato”. Foi embora no momento em que o ajuste de contas dos florianistas estava em curso. Os antigos chefes revolucionários e até mesmo alguns simples simpatizantes foram presos e fuzilados na fortaleza localizada na ilha de Anhatomirim. Poucos tiveram um fim tão cruel quanto o de Diogo Nunes, que pagou mais por causa da fama de degolador. Fama que ele nunca tentou desmentir. Meses depois, em outubro, o nome da cidade mudou de Desterro para Florianópolis. Uma forma de deixar bem claro quem vencera aquela disputa.

Joana estabeleceu-se no interior do Paraná, onde moravam algumas de suas tias. Casou-se, teve filhos, netos e viveu até os 83 anos. Não gostava de responder perguntas sobre sua mocidade e nunca contou a ninguém a história de seu romance com Diogo Nunes. Até o fim, se recusou a aceitar a ordem que o lambisa lhe dera.

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