domingo, 24 de dezembro de 2006

Infortúnios de centroavante apaixonado

Nunca te disse isso, minha querida. Nunca disse porque sabia que você ficaria chateada comigo. Mas a verdade é que as duas coisas mais importantes da minha vida sempre foram você e os jogos do Trindadense nos sábados à tarde. Tá, agora você deve estar me xingando de idiota, de machista, indignada por eu te comparar com um jogo de futebol. Mas, meu bem, você não tem noção do que é ser o centroavante titular do time do bairro. Não tem idéia do que receber a bola na frente, ganhar do zagueiro na corrida e chutar fora do alcance do goleiro. Não imagina o que é comemorar o gol junto com a torcida. Eu sei. Sem falsa modéstia, costumo fazer isso toda semana. E significa muito pra mim. Tanto quanto você.

Faz três semanas que nós brigamos, que você falou aquele monte de coisas e disse que não queria mais nada comigo. Não é a melhor hora pra te dizer que você é tão importante pra mim quanto jogar bola. Mas foi a única maneira que encontrei de te mostrar o quanto gosto de você. Não! Não pára de ler agora! Eu estou sendo sincero e esta talvez seja a última esperança de te ter ao meu lado de novo. E não é importante só pra mim.

Querida, faz duas semanas que eu passo em branco. A bola chega limpa e eu perco o gol como nunca perdia. Acredita que errei um pênalti no sábado? Um pênalti, minha linda! Você, que me viu bater tantos pênaltis, também não deve estar acreditando. E sabe de quem é a culpa disso? É sua. Tá, não é só sua. Eu tive culpa também, eu dei motivo pra gente brigar, eu chutei em cima do goleiro. Mas o que eu quero dizer é que isso vem acontecendo desde que brigamos.

Tá, você deve estar se perguntando o que tem a ver com essa falta de pontaria que apareceu na minha vida de repente. Tudo. Sabe o que é entrar em campo sabendo que você não está na arquibancada, torcendo por mim? Não consigo me concentrar. Jogo pensando numa forma te de convencer a voltar, sem ter idéia de como fazer isso. Aí não consigo dominar uma bola, acertar um passe, fazer um golzinho sequer.

Você acha que tô exagerando, né meu bem. Não. Pra você ter idéia, num lance o Veco driblou dois no meio do campo e me passou uma bola perfeita. Recebi e fiquei sozinho com o goleiro. Só tinha que chutar e correr pra comemorar, mas pensei em você. Tem cabimento, meu anjo? Só eu, o goleiro, a bola, o chute armado... e eu pensando em você? Não podia dar outra: quando percebi o goleiro tava em cima de mim, agarrando a bola. Eu não chutei, perdi o gol mais feito da história. A torcida me vaiou e tudo. Não agüentei, pedi pra sair.

O seu Moreira já disse que entende os meus problemas, mas que se eu continuar assim, vai ter que botar outro no meu lugar. Aí eu fico sem você e sem gols no final de semana. Como que eu fico? Por favor, Sandrinha, volta pra mim. Preciso de você muito mais do que imaginava. Faço tudo que você quiser, mas volta. E volta logo. Pra alegria minha e de toda o torcida do Trindadense, o glorioso time do bairro da Trindade. Te amo, Adamastor.

2 comentários:

  1. Lembro-me direitinho do sorriso de orelha à orelha na primeira vez que li esse texto. =D
    Não foi difícil lembrar, porque ele reapareceu. ;)

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  2. Aproveitando para republicar os textos, hein seu malandrão!

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