segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

mais um texto antigo, daqueles que nunca vou terminar

- Por que a gente não tá na praia? – pergunta Bruno.
- A gente tava lá e tava um saco... quer voltar?
- Vamos jogar mais essa, depois a gente vê.

Esses dois andavam sempre juntos nos dois meses de férias naquela pequena praia do litoral gaúcho. Desde moleques. Sempre comprando fichinhas. Antes, de fliperama. Agora, depois dos 18, sinuca. Eles não têm muito em comum, mas mantém uma espécie de acordo tácito: em janeiro eles precisam se acertar porque só têm um ao outro. Isso nunca foi discutido entre os dois, e se alguém lhes dissesse isso, fariam cara feia, diriam que não é verdade. Mas no fundo eles sabem que é por aí. Nessa tarde, eles foram à praia, beberam uma cerveja, não encontraram conhecidos e Bruno, o mais impulsivo dos dois, resmungou e convenceu o primo a ir jogar sinuca.

- Isso aqui tá uma merda. Ninguém pra tomar cerveja com a gente, bandeira vermelha, mar acholatado. Vamos jogar sinuca?
- Bruno, são três horas...
- Ah... melhor que ficar aqui... aí tu treina um pouco também...
- Vamos ver quem é que precisa de treino.

Pedro caía nas provocações de Bruno e isso sempre o fazia perder o controle da situação. As vontades de Bruno prevaleciam facilmente. A sorte de Pedro é que Bruno nunca percebeu isso, nunca usou esse expediente de forma intencional. Na mesa de sinuca, ao contrário, o domínio era de Pedro. Ganhara os três jogos e riu muito por ver um Bruno indignado ir buscar a quarta ficha.

- Pensei que tivesse cansado de treinar, Bruno!
- Ah... vai te fuder, seu largo...

Quando Bruno voltou com mais fichas, entraram duas meninas para jogar também. As duas morenas, meiguinhas, uma de camiseta azul com estampa das meninas superpoderosas e a outra de verde. Daquelas que até dois verões atrás viviam montadas em bicicletas e andavam em bando junto com as irmãs menores dos amigos. Agora estavam sozinhas e não pareciam duas menininhas. Bruno colocou a ficha na mesa olhando pra elas.

- Conhece, Pedro?
- De vista... essas meninas andam sempre em bando.
- Agora não...
- No que você tá pensando?
- Tive uma idéia...
- Bruno...

Quando Bruno tinha uma idéia, a chance dela ser posta em prática era de 95%. E mais uma vez ele fez o que lhe passou pela cabeça sem consultar ninguém.

- Ei, meninas! – gritou.
- O que foi? – respondeu a menorzinha, a das superpoderosas.
- Como vocês se chamam?
- Tatiana – disse a superpoderosa.
- Marimá – disse a outra.
- Marimá, que diferente, disse Pedro, meio sem pensar.
- É Maria Mariana, mas ela detesta... prefere que chamem de Marimá – interveio Tatiana, rindo em seguida apesar da cara contrariada da amiga.
- Prazer... meu nome é Bruno e esse é o meu primo Pedro. A gente tá aqui há um tempão, a gente não agüenta mais se ver e ele tá bravo porque eu ganho todas...
- Mas que mentiroso... – resmungou o primo.
- ... aí eu vi vocês entrarem e tive uma idéia. Vocês topam participar de uma brincadeira?
- Brincadeira, como assim? disse Marimá, um tanto desconfiada.
- Calma menina... sinuca. Ó... quem ganhar no jogo aqui da nossa mesa, joga com quem ganhar na mesa de vocês. Topam?

As meninas riram e aceitaram a brincadeira. Pedro gostou da idéia do primo e já imaginava qual das duas meninas queria jogar: Marimá. Achou lindo o nome, apelido, seja o que for. E ela era uma gracinha também. Passava giz no taco, distraído e nem viu o primo chegar perto para dizer baixinho.

- Eu quero a Marimá.

O mais interessante do jogo criado por Bruno é que não era uma disputa baseada no talento para a sinuca. Ambos queriam Marimá e se ela perdesse, ganhar a disputa significava perder o jogo. Eles poderiam prestar atenção no jogo delas para saber se deveriam ganhar ou perder, mas entre a mesa deles e a das meninas havia outra vazia. Que logo foi ocupada por um menino de uns sete anos e seu pai, um barrigudo de sunga e camiseta regata.

- Você inventou o jogo, agora agüenta as regras. Ou torce pra ela perder.
- Duvido que ela perca para a outra...
- Então trata de ganhar o jogo. Eu também prefiro a Marimá.
- Cachorro... oquei. Mas tem uma coisa... nesse jogo a gente decide quem fica com quem. Se eu ganhar a Marimá, você nem olha pra ela até o fim de janeiro.
- E vice-versa.
- Exato. Se você ganhar a Tatiana eu prometo não olhar pra ela até o fim de janeiro também.
- Seu calhorda...

Riram e começaram o jogo que poderia definir as próximas duas semanas.

2 comentários:

  1. Eu voto por "começo, meio e fim", mas um texto assim também pode ser legal, já que deixa o leitor "escolher" o final né...!

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  2. “mais um texto antigo, daqueles que nunca vou terminar”

    Como eu tinha te dito, eu achei o texto artificial e com uma que outra parte de humor, mas um humor meio inibido. Esse é o comentário geral. Agora, por que eu digo que está artificial, isso se estende tanto à narrativa em si quanto aos diálogos. Eu não sei qual era o teu propósito, se realmente tu gostaria de parecer verossímil. No plano da narrativa, eu acho que as descrições, algumas, são desnecessárias, por exemplo, tu frizou um monte o caráter impulsivo/infantil do Bruno, coisa que poderia até ficar subentendida quando tu descreve os atos dele. Me entende? A impressão que dá é que tu tem necessidade de deixar muito, muito claro como ele é, mas assim tu subestima o leitor. Os diálogos não parecem normalmente comuns, são artificiais porque não é assim que nós falamos. Tu fala assim? ... Me entende? Se tu assiste novelas, tu vê que os diálogos são artificiais. A comparação é cruel, mas os diálogos que tu escreveu parecem os de enredo de novela, não soam naturais. Por exemplo: “- ... aí eu vi vocês entrarem e tive uma idéia. Vocês topam participar de uma brincadeira?” Ninguém diz isso! Ao menos não no meu mundo, entende? Seria mais normal alguém dizer: “vocês vão jogar? (...) Que tal a gente fazer assim, quem ganhar entre nós dois joga com quem ganhar entre vocês”. Não sei, me entende? Porque a fala nunca é tão bem elaborada quanto a escrita, são planos diferentes. De repente antes de escrever um diálogo tu poderia pensar na situação e tu mesmo falar o que tu quer que o personagem fale. Fala em voz alta e arruma para como tu ou uma outra pessoa diria. Acho que isso quebraria a artificialidade de que estou falando. Aliás, isso e algumas das interrupções do narrador. As melhores interrupções que tu fez, na minha opinião, foram no trecho “- Tatiana – disse a superpoderosa.
    - Marimá – disse a outra.
    - Marimá, que diferente, disse Pedro, meio sem pensar.” Isso teve humor e ficou bom. Sem a interrupção do “disse Pedro(...)”, ficaria melhor ainda. E o nome Marimá ficou muito engraçado! Essa parte aqui também: “Passava giz no taco, distraído e nem viu o primo chegar perto para dizer baixinho.

    - Eu quero a Marimá.”
    Olha só: “Quando Bruno voltou com mais fichas, entraram duas meninas para jogar também. As duas morenas, meiguinhas, uma de camiseta azul com estampa das meninas superpoderosas e a outra de verde. Daquelas que até dois verões atrás viviam montadas em bicicletas e andavam em bando junto com as irmãs menores dos amigos. Agora estavam sozinhas e não pareciam duas menininhas.” Essa parte eu gostei, mas, e, bom, isso é bem pessoal, eu detesto coisas como “de camiseta azul com estampa das...”. Ficou engraçado ser das superpoderosas, mas eu, pessoalmente, então deixaria como única descrição da blusa ela ser das superpoderosas. Porque às vezes as pessoas escrevem e pensam que é estilismo, entende. Bom, eu não gosto. Mas o Erico Veríssimo também tinha essa mania de introduzir um personagem e já dar as características. Eu não gosto, mas aí é muito pessoal.

    “Quando Bruno tinha uma idéia, a chance dela ser posta em prática era de 95%. E mais uma vez ele fez o que lhe passou pela cabeça sem consultar ninguém.” Aqui tu já diz praticamente que o Bruno é impulsivo, e poderia ter deixado de escrever várias coisas acerca dele, porque só desse trecho e dos diálogos já se pode supor muita coisa. É só tu reler, vai me entender.

    Bom, eu sei que fui carrasca. Não vou escrever mais porque acho que, por hora, já falei coisas bem importantes. É óbvio que isso é MINHA opinião, e eu não sou dona da verdade. Eu tenho uma amiga que escreve coisas que eu não gosto e uma outra amiga minha acha que ela escreve super bem. Tentei te explicar o máximo possível das minha opiniões para que tu mesmo possa pensar e ver se fazem sentido ou não.

    =]
    Beijo.

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