Na primeira semana do Curso do Estadão, que fiz em 2004, mandaram os trinta alunos passear no Parque do Ibirapuera. O texto que saiu, tá logo abaixo. Foi o que mais gostei de escrever naqueles três meses. É, bateu uma nostalgia.
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Zulmira Santos Faustino tinha 14 anos quando foi à inauguração do Parque Ibirapuera, em 21 de agosto de 1954, durante as comemorações do aniversário de 400 anos da cidade de São Paulo. Desde então, nunca deixou de freqüentar o parque, que, garante, "sempre foi um lugar gostoso assim". Ela é apenas uma das milhares de pessoas que semanalmente vão ao Ibirapuera e transformam seus 1,1 milhão de metros quadrados numa das mais freqüentes opções de lazer do paulistano.
O número de visitantes chega a 130 mil pessoas aos domingos. Mas dona Zulmira, 64 anos, prefere vir em dias de semana, quando a média de público cai para 20 mil pessoas e ela pode tranqüilamente comer seu pão com mortadela enquanto vê os sobrinhos se divertirem nos brinquedos do parque. Adora o lugar e se não fosse tão longe - mora em Interlagos -, chegaria às seis da manhã para só ir embora à noite. Não reclama de nada, só acha que o parque poderia ter mais lanchonetes, banheiros e balanços. "E balanço pra velho também", revela sorrindo, com uma pontinha de inveja dos sobrinhos.
Quem ainda tem idade, aproveita o quanto pode. Edineide Félix Andrezza, 40 anos, reservou o final de semana prolongado para apresentar o Parque Ibirapuera ao filho Lucas, no dia em que ele completava 3 anos. Ela e o marido vieram de carro, trazendo bola, bolo, bicicleta e tudo o que menino tinha direito. Valeu a pena. O garoto gostou tanto do passeio que a família promete vir mais vezes. No mínimo com a mesma assiduidade que Edineide costumava vir ao Ibirapuera antes de se casar.
Como Edineide, 19% dos freqüentadores vão ao parque com a família. Alguns deles, só depois de muita insistência, como no caso do casal Joseílton e Ione Lira. Ela gosta de vir e trazer a filha, mas o marido tem preguiça de sair de casa nos finais de semana. No domingo, ela não só conseguiu tirar Joseílton de casa, como convenceu a mãe, Marizete Cardoso, 58 anos, a vir ao Ibirapuera pela primeira vez. Foram pela manhã, levaram comida de casa e se dependesse de Ione, ficariam no parque até o entardecer. "Tudo isso?", espantou-se Joseílton quando soube das intenções da esposa.
Mas nem todos vão ao parque a passeio. O pernambucano Francisco Geraldo dos Santos, o seu Chico, tem 48 anos e é vendedor ambulante no Ibirapuera há 20. É um dos 200 ambulantes cadastrados pela administração do parque e é o mais antigo de todos. O maior orgulho de seu Chico é a clientela que conquistou em todos esses anos em que trabalha no parque. Gente que passa por dezenas de ambulantes e faz questão de comprar com ele. "É por isso que faça chuva, faça sol, eu tô aqui todo dia", garante.
Seu Chico conta que começou a trabalhar no Ibirapuera na época em que Mário Covas era o prefeito de São Paulo - o último que foi indicado pelo governador do Estado em vez de eleito pelos paulistanos. Na época, ele apenas freqüentava o parque e via os ambulantes correndo da fiscalização com as mercadorias. A repressão aos ambulantes era forte na época, mas mesmo assim ele resolveu tentar a sorte também. Aos poucos foi se estabelecendo e a repressão afrouxando até acabar, na gestão do prefeito Paulo Maluf. Mesmo assim, se depender do voto de seu Chico, o ex-prefeito não volta ao Palácio das Indústrias. "Maluf nunca mais", revela o ambulante.
Hoje em dia não há repressão aos ambulantes - com exceção dos que tentam vender bebida alcoólica - e além do cadastro informal da administração do parque, 107 deles formam uma cooperativa. Assim como seu Chico, faz parte da cooperativa a também pernambucana Zilda Maria de Oliveira, que está em São Paulo há 25 anos e trabalha no parque há dez. Ao contrário do colega, ela prefere trabalhar apenas nos domingos e feriados. Mora no Jardim Jacira e precisa acordar às cinco da manhã para chegar no Ibirapuera às nove. Deixa o parque ao entardecer. Trabalha junto com a filha de 17 anos que "herdou" o carrinho deixado pelo marido, que morreu há um ano. Zilda gosta de trabalhar no parque. Tira R$ 400,00 por mês, além da satisfação. "É um divertimento. Trabalho e vejo um monte de coisa. Nem me imagino largando isso aqui".
que texto mais gostoso :}
ResponderExcluirah, que bonitinho... eh como se eu estivesse lah vendo essas pessoas.
ResponderExcluiro Ibirapuera eh um lugar legal. Quando vou pra SP, as vezes vou ao Parque do Pequeri (que eh mais perto de onde fico).
O depoimento da dona Zulmira me fez lembrar que a segurança interna lah no Pequeri tambem nao deixa os "maiorzinhos" utilizarem os balanços. Vi pedirem para uma adolescente desocupar o lugar.
Mas uma cena que vi - tambem envolvendo o balanço - me tocou bastante. Uma menininha de uns 3/4 anos, tentava brincar no balanço mas nao sabia embalan�ar sozinha. O casal que estava com ela, alem de nao ajudar, ainda chamava a coitada da criança de "tansa". Nossa, me cortou o coraçao. Eles estao com uma penca de outros pequenos (uns 5). O "pai" da historia soh dava atençao pro menino, que estava tentando aprender a andar de bicicleta e a "mãe" dedicava atençao a um outro menor. Observei que cada vez que o "pai" se aproximava da menina, ela ficava paralisada, olhando pra ele com um ar de medo. Credo! fiquei pensando se ele nao batia d+ nela...
Enfim, no final da historia, nao aguentando mais ver o sofrimento da menina em tentar movimentar o balan�o, fui lah (mesmo sob os protestos do meu noivo). A menina se chamava Giovana (o mesmo nome da minha afilhada, por isso nao esqueci). Bem, tentei ensinar - sem muito exito - ela a se embalançar. Segurei nas perninhas magrinhas e com alguns machucadinhos da Giovana, uma menina afrodescente... Na conversa com a "mae", descobri que a Giovana era sobrinha dela... fiquei pouco tempo neste meu lapso - talvez de instinto maternal - e a Giovana continou lah sem saber se embalançar e sem ninguem lhe dando atençao... Coisas da vida!