terça-feira, 20 de novembro de 2007

No parque

Na primeira semana do Curso do Estadão, que fiz em 2004, mandaram os trinta alunos passear no Parque do Ibirapuera. O texto que saiu, tá logo abaixo. Foi o que mais gostei de escrever naqueles três meses. É, bateu uma nostalgia.

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Zulmira Santos Faustino tinha 14 anos quando foi à inauguração do Parque Ibirapuera, em 21 de agosto de 1954, durante as comemorações do aniversário de 400 anos da cidade de São Paulo. Desde então, nunca deixou de freqüentar o parque, que, garante, "sempre foi um lugar gostoso assim". Ela é apenas uma das milhares de pessoas que semanalmente vão ao Ibirapuera e transformam seus 1,1 milhão de metros quadrados numa das mais freqüentes opções de lazer do paulistano.

O número de visitantes chega a 130 mil pessoas aos domingos. Mas dona Zulmira, 64 anos, prefere vir em dias de semana, quando a média de público cai para 20 mil pessoas e ela pode tranqüilamente comer seu pão com mortadela enquanto vê os sobrinhos se divertirem nos brinquedos do parque. Adora o lugar e se não fosse tão longe - mora em Interlagos -, chegaria às seis da manhã para só ir embora à noite. Não reclama de nada, só acha que o parque poderia ter mais lanchonetes, banheiros e balanços. "E balanço pra velho também", revela sorrindo, com uma pontinha de inveja dos sobrinhos.

Quem ainda tem idade, aproveita o quanto pode. Edineide Félix Andrezza, 40 anos, reservou o final de semana prolongado para apresentar o Parque Ibirapuera ao filho Lucas, no dia em que ele completava 3 anos. Ela e o marido vieram de carro, trazendo bola, bolo, bicicleta e tudo o que menino tinha direito. Valeu a pena. O garoto gostou tanto do passeio que a família promete vir mais vezes. No mínimo com a mesma assiduidade que Edineide costumava vir ao Ibirapuera antes de se casar.

Como Edineide, 19% dos freqüentadores vão ao parque com a família. Alguns deles, só depois de muita insistência, como no caso do casal Joseílton e Ione Lira. Ela gosta de vir e trazer a filha, mas o marido tem preguiça de sair de casa nos finais de semana. No domingo, ela não só conseguiu tirar Joseílton de casa, como convenceu a mãe, Marizete Cardoso, 58 anos, a vir ao Ibirapuera pela primeira vez. Foram pela manhã, levaram comida de casa e se dependesse de Ione, ficariam no parque até o entardecer. "Tudo isso?", espantou-se Joseílton quando soube das intenções da esposa.

Mas nem todos vão ao parque a passeio. O pernambucano Francisco Geraldo dos Santos, o seu Chico, tem 48 anos e é vendedor ambulante no Ibirapuera há 20. É um dos 200 ambulantes cadastrados pela administração do parque e é o mais antigo de todos. O maior orgulho de seu Chico é a clientela que conquistou em todos esses anos em que trabalha no parque. Gente que passa por dezenas de ambulantes e faz questão de comprar com ele. "É por isso que faça chuva, faça sol, eu tô aqui todo dia", garante.

Seu Chico conta que começou a trabalhar no Ibirapuera na época em que Mário Covas era o prefeito de São Paulo - o último que foi indicado pelo governador do Estado em vez de eleito pelos paulistanos. Na época, ele apenas freqüentava o parque e via os ambulantes correndo da fiscalização com as mercadorias. A repressão aos ambulantes era forte na época, mas mesmo assim ele resolveu tentar a sorte também. Aos poucos foi se estabelecendo e a repressão afrouxando até acabar, na gestão do prefeito Paulo Maluf. Mesmo assim, se depender do voto de seu Chico, o ex-prefeito não volta ao Palácio das Indústrias. "Maluf nunca mais", revela o ambulante.

Hoje em dia não há repressão aos ambulantes - com exceção dos que tentam vender bebida alcoólica - e além do cadastro informal da administração do parque, 107 deles formam uma cooperativa. Assim como seu Chico, faz parte da cooperativa a também pernambucana Zilda Maria de Oliveira, que está em São Paulo há 25 anos e trabalha no parque há dez. Ao contrário do colega, ela prefere trabalhar apenas nos domingos e feriados. Mora no Jardim Jacira e precisa acordar às cinco da manhã para chegar no Ibirapuera às nove. Deixa o parque ao entardecer. Trabalha junto com a filha de 17 anos que "herdou" o carrinho deixado pelo marido, que morreu há um ano. Zilda gosta de trabalhar no parque. Tira R$ 400,00 por mês, além da satisfação. "É um divertimento. Trabalho e vejo um monte de coisa. Nem me imagino largando isso aqui".

2 comentários:

  1. ah, que bonitinho... eh como se eu estivesse lah vendo essas pessoas.
    o Ibirapuera eh um lugar legal. Quando vou pra SP, as vezes vou ao Parque do Pequeri (que eh mais perto de onde fico).
    O depoimento da dona Zulmira me fez lembrar que a segurança interna lah no Pequeri tambem nao deixa os "maiorzinhos" utilizarem os balanços. Vi pedirem para uma adolescente desocupar o lugar.
    Mas uma cena que vi - tambem envolvendo o balanço - me tocou bastante. Uma menininha de uns 3/4 anos, tentava brincar no balanço mas nao sabia embalan�ar sozinha. O casal que estava com ela, alem de nao ajudar, ainda chamava a coitada da criança de "tansa". Nossa, me cortou o coraçao. Eles estao com uma penca de outros pequenos (uns 5). O "pai" da historia soh dava atençao pro menino, que estava tentando aprender a andar de bicicleta e a "mãe" dedicava atençao a um outro menor. Observei que cada vez que o "pai" se aproximava da menina, ela ficava paralisada, olhando pra ele com um ar de medo. Credo! fiquei pensando se ele nao batia d+ nela...
    Enfim, no final da historia, nao aguentando mais ver o sofrimento da menina em tentar movimentar o balan�o, fui lah (mesmo sob os protestos do meu noivo). A menina se chamava Giovana (o mesmo nome da minha afilhada, por isso nao esqueci). Bem, tentei ensinar - sem muito exito - ela a se embalançar. Segurei nas perninhas magrinhas e com alguns machucadinhos da Giovana, uma menina afrodescente... Na conversa com a "mae", descobri que a Giovana era sobrinha dela... fiquei pouco tempo neste meu lapso - talvez de instinto maternal - e a Giovana continou lah sem saber se embalançar e sem ninguem lhe dando atençao... Coisas da vida!

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