Passou despercebido por mim, talvez por ser domingo e plantão no jornal, o dia 12 de abril. Não estou falando da páscoa, que comemorei comendo o suflair que comprei no posto de gasolina, pouco depois de chegar à redação. Naquele dia completavam-se dez anos da minha primeira aula no curso de jornalismo.
Acho que ainda lembro bem. Vejamos. Pela manhã, aula de redação para TV, com o Fernando Crócomo. Só lembro da Ginny, não sei exatamente porquê. Talvez pela risada. Em seguida, redação para rádio, com a Maria José Baldessar. Dessa aula, lembro da Marianne, que ficou só um semestre com a gente. Esses dias dei busca no nome no google e soube que estava dirigindo teatro. Acho que foi pra isso que ela saiu mesmo.
Na saída, a turma ficou concentrada na entrada, trancaram a porta. Trote. Nada demais. Umas pinturas, pés descalços e concentração no único lugar aberto ali por perto e que vendia cerveja. Não era o Pida, era um restaurante meio tosco. A lenda é que os veteranos e alguns calouros ficaram por lá até a noite. Eu não. Tinha aula de técnicas de reportagem, pesquisa e entrevista jornalística à tarde.
Imperdível, com certeza. E foi. O Scotto falou, falou, falou. Não lembro de nada, mas os doze ou treze alunos da sala não tiraram os olhos dele. Depois saberíamos que aquele era o temido professor de redação que fazia menininhas chorarem, era odiado por uns ("um escroto") e idolatrado por outros ("o Scotto é foda"). E que, cinco anos depois, foi meu orientador no trabalho de conclusão de curso. Dessa aula, eu lembro da Nara.
No final da tarde, fui pra casa. Com a certeza de que tinha escolhido certo. Passaram dez anos - cinco e meio deles dentro daquele curso, três e meio dentro de redações - e eu ainda não me arrependi. Jornalismo é uma merda, paga mal, mas ainda é melhor do que trabalhar. Porque o que a gente gosta de fazer nunca é exatamente trabalho.
O que em deixa assustado, na verdade, é ver que dez anos passaram. Eu tinha 16 anos, quase 17, naquele 12 de abril de 1999. Tinha o direito de postergar mil coisas, fazer mil planos. Parar, dar um passo pra trás de vez em quando (cheguei a trancar o curso por nada em 2002, só pra não ter as férias atrapalhadas por uma greve).
Agora, prestes a completar 27, ainda planejo, ainda postergo. E acordo todos os dias numa cidade em que nunca imaginei morar. Estar mais perto dos 30 do que dos 20 dá muito medo. Parece que sou Dorian Grey e dei uma espiadela no meu retrato antes da hora...
ps. A foto colorida e quadruplicada à direita é bem daquela época. Foi Ginny, a da risada, quem bateu.
gostei do post, Upiara!
ResponderExcluirque bom que está feliz com a escolha. Eu já fugi do tal jornalismo! hehe quem sabe um dia volte, quem sabe...
beijao
perto dos 30 e escrevendo lindamente.
ResponderExcluirA melhor parte é a q diz que ser jornalista ainda é melhor do que trabalhar.... "Porque o que a gente gosta de fazer nunca é exatamente trabalho."
ResponderExcluirLindo!!!
eu também acho que a gente faz qualquer coisa menos trabalhar
ResponderExcluirOi, achei o seu blog (não me pergunte como) e me identifiquei muito. Também sou jornalista, com a diferença que acabei de me formar.
ResponderExcluirParabéns pelo blog, seus textos são ótimos.
Abraço,
Beatriz.
PS: Tomei a liberdade de linkar o seu blog no meu, para que eu possa entrar aqui mais vezes...
Upiara, legal saber que você não está tão distante de uma década atrás, época da tal escolha. Estou mais pra lá do que pra cá, mas pelo menos com saúde!
ResponderExcluirEu, Neto, Maionese e Mariana Ortiga fomos os quatro calouros que resistiram até o final daquele trote capenga. No fim, os veteranos já estavam pagando cerveja pra gente no Pida (saímos do restaurante capenga depois de um tempo incerto). Horas antes, tive a primeira aula com o Scotto. E o que eu me lembro nitidamente foi ele dizendo que somente o Sinuê tinha emprego garantido depois de se formar. Afinal, o pai dele é dono de jornal...
ResponderExcluircaráio véio!
ResponderExcluirExistem momentos que realmente a gente se orgulha dos amigos!
=D