sábado, 11 de junho de 2011

Super-homem


- Laerte só pode estar louco.

Foi essa a frase que lhe veio à cabeça assim que passou a mão pelos vestidos pendurados quase em frente à entrada da loja. Lembrou-se da entrevista em que o cartunista dizia que um dos motivos para passar a usar roupas femininas era a variedade que o guarda-roupa do gênero oposto oferecia na comparação com o masculino. Enquanto passava um a um os vestidos, pensou que tarefa absurdamente complexa seria ter aquela quantidade de opções a cada compra de roupa – ou pior, a cada escolha diária.

A ideia de perder o conforto da combinação calça, camiseta, camisa, jaqueta que o guarda-roupa de homem proporciona chegou a fazer com que o simples olhar para os vestidos trouxesse um quê de agonia. Era a primeira vez que comprava um vestido. Mais que isso, porque comprar significa apenas pagar por algo. Era a primeira vez que escolhia um vestido. A primeira vez que precisava pensar em tamanhos, cores, formas, estilo e possibilidades de combinação. Algo muito diferente de entrar com uma mulher numa loja similar, esperar enquanto ela escolhe meia-dúzia deles e dizer variações de “ficou bonito” quando ela perguntar alguma coisa.

Eram apenas ele, os vestidos e um corpo que não lhe saía da cabeça. Quando viu, tinha nas mãos um exemplar que parecia ter o tamanho certo, a cor certa, o estilo certo. E ser destinado ao corpo certo. Sorriu ao perceber que a agonia não era por ter que escolher um vestido.

Era a primeira vez que dava uma roupa de presente a uma namorada.

Nunca teve tanto medo de errar. Nem tanta vontade de acertar.

- Vou levar esse aqui.
- Ótima escolha – respondeu o vendedor.
- Vamos ver...

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