quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Morreu um indignado


A morte do Mosquito me deixou tão chocado que eu evitei qualquer comentário público na hora. Logo que a notícia surgiu, houve uma tendência à exaltação por parte de quem gostava dele e estava comovido, seguida por uma necessidade de relativização - às vezes cruel - de quem reprovava a figura ou os métodos. Não quis ser associado a nenhum dos grupos.

Nunca achei que o Mosquito fizesse jornalismo, mas ele chegou perto muitas vezes. Em outras, ele publicou a pauta - aquela base que uma apuração mais cuidadosa transformaria em produto jornalístico. Ele parece nunca ter entendido a diferença entre jogar uma denúncia no blog e fazer jornalismo, mas também não tinha obrigação de saber.

Vozes como a do Mosquito surgem quando os jornalistas "verdadeiros" se acomodam. Quando se acostumam com a realidade em que vivem, com os formalismos legais, com as burocracias governamentais, com as coisas que "são normais", "que acontecem desde sempre", que "não vão mudar". Aí alguém faz o trabalho do jornalista do jeito que acha que deva ser feito - ou como consegue fazer.


Um blog como o Tijoladas do Mosquito só surge e se fortalece diante da omissão dos jornalistas. Essa é a lição desse episódio triste que terminou com a morte de um verdadeiro personagem da cidade – amado, odiado, tolerado. Esse também é o legado, especialmente aos jornalistas. Se a gente perder a indignação, o resto se esvai aos poucos e alguém toma nosso lugar.


Nem que seja aos gritos.


3 comentários:

  1. Upiara
    Gostei muito do post, inteligente, direto e cheio de reflexões.

    Obrigado

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  2. Pura sensatez!! parabéns pelo texto!! Vou compartilhar porque de tudo o que lí sobre o mosquito, seu texto é o mais coerente. Muito útil à categoria para refletir sobre a inércia que paira no jornalismo e propõe, também, reflexão: cadê a nossa responsabilidade social??
    Abraço,
    Izabel Santos
    jornalista

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  3. Pura realidae, pura rotina. Quem nào se vende e nào se cala, anda correndo o risco de ser calado. Políticos, sindicalistas, pseudo jornalistas de luta, e todo tipo de cidadào honesto e com boa capacidade de intervencao na sociedade anda correndo o risco de ser enforcado pela ditadura velada em que vivemos. Muito bom texto Upiara.

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