sábado, 23 de janeiro de 2016

A festa que nunca terminou

É difícil escrever sobre a Pélvis Shaker. Para quem conheceu, não precisa. Para quem não conheceu, não adianta. Quem passou boas madrugadas da segunda metade do anos 2000 espremido em lugares como o Tulipa, o Gallileus, o Casarão ou algum dos outros inferninhos menos cotados que abrigaram a festa, sabe que aquelas noites são irrepetíveis.

Mesmo sabendo, noturnamente tentamos. A Pélvis Shaker nasceu da escassez local diante de um cenário mundial borbulhante. O indie rock strokiano prometia salvar o rock e não conseguiu, é claro. O rock não precisava ser salvo, precisava só de uma chacoalhada. Nós é que queríamos ser salvos das noites johbullescas, do rock clássico, chato e cover de cada noite.

A primeira Pélvis Shaker, em junho de 2005, já nascia encharcada pelo espírito da época que ainda tentava atravessar a Ponte Pedro Ivo Campos e entrar na Ilha de Santa Catarina. Como resumi em outro texto sobre a festa, o conceito era simples: uma noite barata com alguns djs se desdobrando entre variações do novo e do velho rock, com pitadas de música eletrônica e algumas idiossincrasias, porque ninguém é de ferro. Era isso que faziam Calvin, Dão, Alê e Leo, a formação clássica da festa, e seus convidados.

Essa combinação explosiva ganhou a cara definitiva no antigo Gallileus, um casarão histórico na rua Hercílio Luz com um inacreditável porão/pista que parecia autorizar a libertação de todos os anjos e demônios interiores. A festa virou semanal, fazendo das quintas-feiras o dia mais esperado da semana.

A Pélvis sobreviveu ao fim do Gallileus e a seus rebatizados até o fechamento do local. Passou a ser esporárica, sempre muito querida. Não sobreviveu foi às mudanças geográficas e estéticas de seus djs. Houve quem pensasse que nem havia mais espaço para uma festa de rock naqueles termos. Por saudosismo, ela volta e meia era encenada. Mas as noites, como disse antes, são irrepetíveis.

Acontece que a Pélvis Shaker é teimosa, sempre foi. Neste sábado, o Taliesyn será o palco de uma coincidência cósmica que pode permitir a reabertura de uma janela temporal. Calvin, Dão, Alê e Leo estão na Ilha e querem tocar juntos. Será uma Pélvis para celebrar o que fomos e o que viramos e lembrar daquelas incríveis quintas-feiras. Uma festa para confirmar que, no fim das contas, a Pelvis nunca terminou. 

Quem frequenta o atual calendário semanal de festas com djs de rock, pop e etc em lugares como o Blues Velvet e o Treze, quem compartilha os cartazes da Rock Experience, da 2Thousands, entre outras, presta um tributo à Pélvis. Dizem que poucos ouviram Velvet Underground enquanto a banda existiu, mas que quem ouviu, fez uma banda. Perguntem aos produtores de suas festas prediletas onde eles estavam nas quintas-feiras de 2006 e 2007.


Um comentário:

  1. Upiara, quem pode ir nas ótimas festas do Tulipa, soube aproveitar Florianópolis.

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