segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Dez anos pelo mesmo caminho

Dezembro de 2006, o Upiara de 24 anos idade e quatro meses de
editoria de política entrevista o governador reeleito
Luiz Henrique da Silveira. O repórter derrubou a água.

— A gente sabe que tu vai bem em geral e esporte, mas a vaga é de política. Se não der certo, a gente pode tentar remanejar depois.

O rapaz de 24 anos em frente ao editor-chefe da sucursal do jornal A Notícia em Florianópolis se sentia verde para a função, mas estava duplamente feliz. Queria muito voltar àquela redação em que havia trabalhado por três meses cobrindo férias no verão e praticamente se ofereceu para voltar quando soube que um episódio atrapalhado havia aberto uma vaga na editoria de política. Imaginava que algum remanejamento simples poderia colocá-lo de volta no esporte - onde já acumulava incríveis cinco meses de experiência somando Notícias do Dia e próprio AN. Cair na política era um desafio a mais.

Sempre gostei de política. Vamos lá - respondeu o rapaz.

Fomos.

Nesta segunda-feira, dia 1º de agosto de 2016, faz dez anos que voltei ao prédio da sucursal do AN em Florianópolis para assumir uma vaga de repórter de política. Mudei de cidade, de jornal, voltei, mas nunca mais perdi o título - mesmo que a editoria tenha outro nome. Eram outros tempos. Na casa que sediava a redação, éramos quatro repórteres de política. Dois exclusivos para a política estadual, reportando-se diretamente aos editores em Joinville, sede do AN. Outros dois, eu um deles, acompanhando a política de Florianópolis e dos dos municípios da região para o caderno AN Capital.

Foi falando com vereadores e prefeitos que comecei a entender o jogo da política para além dos olhos de leitor. Logo seria a vez de deputados, candidatos das eleições daquele ano, o governador.

Um mês depois da minha contratação, o AN foi comprado pelo Grupo RBS. Época de mudanças, ajustes. Um convite para integrar a primeira redação online do Diário Catarinense. Colegas dizendo que eu seria louco se recusasse, diante da iminente mudança de foco do jornal. Disse a eles que aceitaria, claro. Recebi a ligação do editor-chefe do ex-concorrente, fui convidado.

Tem chance de eu ser transferido para a política depois
Não, é uma vaga para o online.
Então não posso aceitar.

Minutos depois, mandei email para editor-chefe e editora de política do AN. Recebi proposta, disse não “porque gosto muito de cobrir política e de cobrir política para o jornal A Notícia. Espero não ser punido por isso”. Duas semanas depois, outro convite: repórter de política, no AN, mas em Joinville.

Vamos lá.

Dois anos e meio de imersão na política local da mais populosa cidade catarinense, às vezes tão grande, às vezes tão paroquial. Driblando diariamente o desejo de voltar pra casa, mas vivendo uma experiência que me fez um jornalista melhor. No fim, descobri que só conseguiria voltar quando tivesse algo a perder. Tive, perdi. Aceitei o convite para trabalhar no Diário Catarinense em fevereiro de 2010. Repórter de política, como insisti em ser quando recebi o primeiro convite do DC.

Continuo indo.

Duas eleições estaduais, eleições municipais, visitas de presidenciáveis, a fábrica de inválidos da Assembleia Legislativa, um mergulho na história política de Santa Catarina para tentar desvendar o fim do romance de Victor Konder e Ruth Ramos, experiências com colunas, ver de perto o Senado afastar do cargo uma presidente da República.

O que virá?

Quando a gente completa dez anos fazendo a mesma coisa, fica a dúvida sobre de deve comemorar ou repensar tudo. Repensei algumas vezes, comemorei outras. Hoje escrevo para marcar a data. Escrevo para dizer que não é a mesma coisa.

Que não sei onde quero chegar, mas sei por onde vou.

Vamos lá.

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