terça-feira, 21 de novembro de 2017

A quem diz que não sou catarinense

A primeira vez que morei em Florianópolis, eu tinha uns três ou quatro anos. Meus pais escolheram o Sul da Ilha - Armação, Lagoa do Peri, Morro das Pedras. Tenho vagas e boas lembranças. A vida me levou para longe, mas eu voltaria. Em 1994, o Sul da Ilha me recebeu mais uma vez. Eu e a mãe, uma casa alugada na Armação, o colégio público municipal do bairro, amigos na rua, as lembranças ficam mais vivas.

Mudamos algumas vezes na própria Armação, chegamos a atravessar o Rio Sangradouro e morar uns meses no Matadeiro. Nunca esqueci aquela vista - e nem a agonia que foi ter o gato picado por uma cobra. Também nunca esqueci do frio no ponto de ônibus da igreja da Armação às 6h30, quando pegava o ônibus rumo ao novo colégio no centro da cidade. Tinha 13 anos e pela primeira vez vivia aquela região a que me apegaria tanto anos depois.

A vida me levaria pra ainda mais longe do que antes, mas eu tinha um prazo de dois anos para voltar. A meta era cursar jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina e eu consegui, chegando lá poucos dias antes de completar 17 anos. O campus se tornou uma nova casa - enquanto a residência real estava em Ponta das Canas, na Lagoa da Conceição, no Canto da Lagoa ou na Trindade. Foi difícil deixar o campus, mas a vida sempre dá um jeito de levar a gente pra fora dele. Fui e pensei que não voltaria mais, que o destino era longe da ilha. Não era.

Em 12 de janeiro de 2006 tive meu primeiro dia de redação de jornal, uma paixão imediata; Rua Crispim Mira, centro de Florianópolis, sucursal do jornal A Notícia na Capital, sede do AN Capital. Não acredito que existisse um lugar melhor para começar a trabalhar. Cobri férias, três meses, fiquei outros três meses no recém-fundado Notícias do Dia, redação na rua Deodoro, imersão no centro histórico. De volta ao AN, veio a política. Era primeiro de agosto de 2006. Câmara de Florianópolis, prefeitura da Capital, Assembleia Legislativa, governo e eleições passaram a fazer parte do meu cotidiano. Morar no Centro de Florianópolis também, uma paixão nova.

A vida e os negócios empresariais voltaram a me tirar da ilha. Menos longe, dessa vez. Na sede do A Notícia, em Joinville, continuei olhando o que acontecia na Ilha da qual tanto sentia falta, mas aprendi a conhecer outra Santa Catarina. Foram dois anos e meio que me trouxeram com outros olhos, mais estadualizados, mais dispostos a conhecer um Estado que vai muito além da ilha que recebeu o mesmo nome. De volta a Florianópolis, de volta ao Centro, comecei no Diário Catarinense em primeiro de fevereiro de 2010.

Eleições e reportagens especiais me levaram a Blumenau, Chapecó, Criciúma, Lages, Itajaí, Balneário Camboriú e mais de uma dezena de outras cidades. Algumas histórias me fizeram ir ao passado resgatar episódios políticos catarinenses da primeira metade do século passado - Ramos vs Konder Bornhausen -, os efeitos do golpe militar de 1964 no Estado, a reconstrução da democracia nos duelos eleitorais de 1982 em diante.


Mais do que uma paixão, fiz da terra catarinense o foco da vida que desenhei pra mim. Cheguei aos 12 anos, agora tenho 35 e espero que a vida não me tire mais daqui. Muita coisa mudou, inclusive eu, nesse tempo todo que passou. A única coisa que não posso mudar é a certidão de nascimento. Lá diz que nasci na noite de 3 de maio de 1982 na gaúcha cidade de Vacaria. Não sou catarinense, realmente. Mas nasci a 41 quilômetros da divisa.

Como se pode perceber, nunca consegui ficar muito longe daqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário