18 anos

É engraçado pensar que há 18 anos eu tinha 18 anos. E que aos 18 anos eu enchia cadernos de poemas exagerados e ingênuos como só os 18 anos permitem.

Trago alguns deles para cá. Por pura saudade de mim.


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Toda vez que me apaixono 

Toda vez que me apaixono
os olhos crescem
as mãos se mexem
mais do que de costume.

Toda vez que me apaixono
palavras novas descrevem
os sentidos,
sentidos novos explicam
as palavras
e crio um novo dicionário.

Toda vez que me apaixono
procuro, vigio,
a cabeça não pensa,
o coração dispara,
um pequeno espaço separa.

Toda vez que me apaixono
esqueço amores antigos,
desejos pendentes,
dores e perdas.

Toda vez que me apaixono
viro um sujeito assim:
bobo,
poeta...

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Teu 

Os meus melhores versos são teus.
Os meus melhores gestos,
meus melhores sorrisos são teus.
As minhas melhores frases,
meus melhores textos,
meus erros e acertos,
são teus.
Meus melhores momentos,
bolas na trave, gols,
são todos teus.
Minhas lembranças são tuas.
As esperanças também.
A vontade de pensar em mais ninguém.
Meu minguinho esquerdo,
meus olhares tristes,
tudo, tudo teu.
Cinismos, ironias,
as graças em horas erradas
e as nas horas certas
são todas tuas.
Pensamentos impuros e desejos sacanas...
de quem mais seriam?
Teus, teus, teus.

Guarda muito bem
o que eu te ofereço.

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Algo a dizer

A dez mil passos do destino largado.
Procurando lembrar de coisas anotadas
e uma placa com o nome da rua.
Nada é muito fácil.
O sol macio leva seis mil horas
para me dar o que queria.
Desprezo o presente.
A lua me daria mais
em menos tempo.
E eu também recusaria.
Lembro de coisas que não existem.
Rio e tropeço
em algo que nunca existiu,
que nunca riu.
Alcanço a esquina,
dobro e guardo no bolso
uma moeda de um centavo
que não deveria ser minha.
Terei roubado o centavo?
Não sei, não lembro,
não faço questão...
A rua tem bares e mercearias,
eu só tenho um centavo
e acho que não é meu.
Danem-se:
eu, o centavo, os bares,
mercearias, a rua,
tudo.

(eu só queria dizer
que não acredito mais
em poemas de amor)