sábado, 17 de outubro de 2015

Sobre começos

Qualquer semelhança com pessoas e situações será esmera coincidência.

---

Puxa a alavanca para baixo, gira rapidamente para a direita, aperta o botão. 

Uma bola azul sai de suas mãos em direção àquela estranha criatura muito maior que ele e que não se assusta com a magia, desvia com um pulo. Nessa hora, salta em direção ao bicho e o golpeia com o pé. Ao chegarem ao chão, termina a sequência com um chute rasteiro, que derruba de vez a vítima.

- Você joga bem.
- Ahn, ah, não, tô enfurrujadíssimo. Só jogo isso aqui na praia, no verão.

Não conhecia a garota que parou para vê-lo jogar fliperama e que resolveu puxar assunto. Nem de tê-la visto pela praia, naquele ou noutro verão. De qualquer forma, não era o tipo de menina que chamaria sua atenção. Mesmo assim aceitou oferecê-la. E começou a caprichar nos golpes na máquina de fliperama.

---

- Já te contei como a gente se conheceu?
- Desde que abriu essa garrafa, umas três vezes.
- Eu fui ao arquivo pesquisar o ano em que o Delfim Netto foi a Joinville inaugurar o edifício Manchester, para enfeitar uma matéria chata sobre a compra do prédio pelo governo estadual. Ela estava lá.
- Adianta eu dizer que conheço a história?
- Puxei papo como quem não queria nada. Passei meses arrependido por não ter feito nenhum convite para depois ou mesmo dado um cartão...
- Dois meses ela te achou na internet, vocês saíram, começaram a namorar, você se cansou dela. Fim da história. Podemos ir embora?

---

- Você é a (escolher nome), né?
- Sim.
- Eu sou o (escolher nome) e acho que já passou da hora da gente se conhecer.

---

Não era tão difícil quanto pensara. Tocava uma música e selecionava a outra no segundo cd. Enquanto todos ouviam a primeira, ele escolhia, no fone de ouvido, o ponto em que a segunda deveria começar, dali dois ou três minutos. A troca ele fazia em duas avalancas de volume, baixando uma e levantando a outra. Foi o que fez, trocando Libertines por Los Hermanos.

- Não acredito que você tocou os meus barbudinhos – disse ela, tão logo começou uma das poucas ousadias que ele fez na primeira vez que foi dj.

---

- Moro a três quadras daqui. Quer ir lá em casa? 

Estava repetindo a pergunta, diante da ausência de resposta dela. Não sabia se ela ainda pensava se era conveniente transar com o rapaz que recém encontrara na pista de dança daquela boate roqueira ou se o barulho era tanto que não ouvira a pergunta.

- Vamos.

No dia seguinte, ainda nus, começaram a se conhecer.

---

Ele sabia que não era só tomar um vinho e ver um filme com a colega de trabalho que acabara de se mudar para o mesmo prédio. Talvez ela não soubesse, mas ele sim.

--

Estava há cinco minutos esperando por ela na calçada. Havia uma expectativa confusa no ar. Se falavam há alguns dias e tinham muitas pessoas em comum, mas tudo pela internet. Até aí nada de inédito, porque já conhecera garotas assim. Já esperara muitas vezes, inclusive. O dado novo era o fato de que aquilo não era um encontro às escuras. Ela tinha outros laços e o convite era apenas para uma cerveja numa rua perto da casa dela. Um convite inocente, portanto.

Inocência que começou a se desfazer quando ela finalmente apareceu.

---

Tudo começou porque nós ganhamos convites para a mesma festa em um sorteio pelo Twitter. 

---

- O que você acha da moral?
- Como?
- Você acredita na moral?
- Eu não, e você?

---

Estava encostado no balcão do bar, como de costume. A garrafa de cerveja nem tão gelada assim posta ao lado, o copo na mão. Observava para ser visto, como de costume. À sua frente, dezenas de pessoas, boa parte casais gays, dançavam música eletrônica. Não estava sendo uma noite muito proveitosa, embora tenha percebido que a baixinha de coxas grossas retribuiu um dos olhares. Continuou a observação por mais um tempo, até que ela, sim, a baixinha, veio até a mesma ponta do balcão. Olhou, sorriu. Ela chegou perto e disse em seu ouvido as palavras inesquecíveis.

- Metade das mulheres aqui daria pra ti só porque tu tem um pau. E tu fica aí parado.

E não era uma cantada.

---

Tudo tinha sido planejado nos mínimos detalhes. Até a camiseta que escolheu para descer o elevador e ir encontrá-la na portaria na portaria do prédio. Ao chegar, encontrou-a linda como nas fotos, com uma mala na mão e disposta a ser dele. Essa última parte ele e ela ainda não sabiam.

Um comentário: