terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O Rei de Amarelo (Robert W. Chambers)

Lembro bem de seu brilho dourado sob o sol na calçada da rua Álvaro de Carvalho. O vendedor de livros tinha alguma dezena de títulos espalhados pela grama bancária daquele trecho da rua e um deles era O Rei de Amarelo. Quando percebi, estava em minhas mãos. 

O personagem que dava nome ao livro era um velho conhecido, o misterioso ser sobrenatural que desencadeou uma série de assassinatos monstruosos na primeira temporada de True Detective - referência explícita na contracapa. O mote de quatro contos de Robert W. Chambers é a existência de um livro, também chamado O Rei de Amarelo, que enlouquece quem o lê. 



Fiquei em dúvida se levava o título, já que o sobrenatural não me encanta como leitura. Mas trouxe. Algo me guiou a essa decisão, hoje penso. O Rei de Amarelo entrou e saiu da minha estante de livros prioritários ao longo de 2017. Só decidi realmente lê-lo nas últimas semanas do ano. Nos textos de apresentação, o autor e a ambientação são comparados ao Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde, escrito poucos anos antes. 

Sempre fui fascinado pela história do retrato que envelhece no lugar do modelo e essa citação me deu mais vontade de ler O Rei de Amarelo. A coincidência de que Dorian começa a enlouquecer após ler um livro de capa amarela dada por Lord Henry parece uma boa brincadeira de Chambers e existem paralelos na temática - especialmente no conto A Máscara. 

Naquela semana em que me dediquei à leitura de O Rei de Amarelo, hospedei em casa uma amiga que não via há alguns anos. Ela estava no outro quarto do apartamento, já recolhida em sua beleza dourada. Era madrugada do primeiro para o segundo dia do ano e eu não conseguia parar de ler O Rei de Amarelo. Em algum momento, passei a desconfiar daquela visita. Por que teria aparecido, o que planejava, quando iria embora. Estaria ali para me vigiar? Imaginei um cenário em que eu era mantido em cativeiro no meu próprio lar. Ou morto. Deveria me proteger, pensei? Deveria ir ao quarto ao lado para questioná-la? Seria ela parte da trama de O Rei de Amarelo, um livro que prometia ir além das páginas?

Terminei o último conto, o relógio marcava quatro horas, eu não tinha sono. Levantei, bebi água, voltei ao quarto. Peguei O Rei de Amarelo e levei para a sala, para a estante dos livros lidos. Só depois consegui dormir. Minha amiga partiu no dia seguinte. Terei mesmo recebido alguém em casa aqueles dias ou só imaginei? 

Nota no Skoob: três.

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