sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Pequenas criaturas (Rubem Fonseca)

É possível que Rubem Fonseca seja o escritor que mais li, uma espécie de bola de segurança. Desde 1998, por causa de O Cobrador na lista do vestibular (pelo menos é assim que lembro e não estou querendo brigar com memórias agora), é difícil passar um ano sem ler algum Fonseca. Falhei ano passado. Fiquei tão decepcionado com O Seminarista em 2016 que acabei esquecendo Pequenas Criaturas na estante dos não lidos por mais tempo do que ele merecia.

O título é um achado. As pequenas criaturas podem ser os 31 breves contos ou os 31 protagonistas das histórias, unidos todos por um senso de inadequação. Um sentimento sempre em busca de uma válvula de escape: sexo, vingança a escolha inútil  entre uma dentadura e uma cadeira de rodas. 

Escrevi sobre inadequação há pouco tempo no Twitter, aquela rede em que a gente faz de conta que escrevemos para nós mesmos. Eram 4h da manhã e chegava a hora de ir embora sozinho do bar, já era 31 de dezembro e eu não sabia como ia virar o ano. Em uma noite que me angustiou mais do que divertiu, como tantas festas, como tantas noites, apresentei um desejo de ano novo em tons pessimistas:

Eu gostaria que em 2018 não me sentisse mais inadequado, não me sentisse mais no lugar errado. Gostaria que fizesse sentido o onde e o com quem estou. Não estou otimista

Lembrei do tweet, daquela noite e daquele desejo de não me sentir mais inadequado, das minhas válvulas de escape, enquanto conhecia as 31 pequenas criaturas de Fonseca. Senti um encaixe, como se tivesse encontrado uma turma. Vivi o alívio das histórias que terminavam bem, a tristeza das mal-sucedidas. Neles, torci por mim. Beijei a moça e a lona um par de vezes. Sobrevivi, como sempre.

Nota no Skook: quatro

Nenhum comentário:

Postar um comentário